Roberto Curt Dopheide
5 de set. de 2012
ANIMAIS
22 de ago. de 2012
WIKILEAKS
O Sr. Julian Assange (Wikileaks) refugiou-se na embaixada equatoriana em Londres. Caçado por divulgar documentos confidenciais do mundo pelo mundo, gasta-se R$ 200 mil diários com o cerco à embaixada, para que não fuja. Ele, por sua vez, diz que só sai se não for extraditado para os EUA, onde corre risco de ser condenado à morte pelo seu crime de divulgar ditos papéis. Penso que devem estar em jogo interesses gigantescos para se gastar uma quantia dessas por dia! Mas, por mal que eu pergunte: quem não cuidou os suficiente destes documentos para que ele pusesse mão neles? O que ele divulgou eram, entre outros, comentários de governos sobre outros governos, algo como “maracutaias” que não deveriam ser divulgadas. Os EUA moveram mundos em termos de lhe cortar os recursos financeiros, tentando por um fim à divulgação. Não vi nada que ele tenha espalhado que não se constitua de coisas vergonhosas acerca de governos. Se eram secretas por isso, e agora querem condená-lo, não é algo como dizer: “Você fofocou sobre meus assuntos particulares, agora quero mata-lo!”? E viva o berço da democracia e todos que tem podres a escolher. Quem mandou ele ser o elo mais fraco dessa corrente?
3 de jun. de 2012
MATURIDADE
Sim, eu sinto: já não sou mais o mesmo!
Agora, às vezes, pensando a esmo
lembro do que foi belo e não volta.
A casa barulhenta, os sonhos, o almoço
Lembram-me que um dia já fui moço.
Hoje não passo de um poço de revolta.
Será que valeu tudo que fiz?
Será verdade que um dia se foi feliz
ou será que foi tudo um sonho confuso,
um pesadelo obscuro que desfalece?
Vamos diminuindo, e se pensa que se cresce
Num louco redemoinho difuso.
O que valeram a infância e os amores,
os sacrifícios, as lutas, as decepções e as dores
que fizeram com que aprendêssemos o quê?
Conseguimos respostas às nossas perguntas?
Acaso bondade e recompensa andam juntas,
se continuamos a tudo indagando “Por quê”?
Tantos grandes passaram pela vida terrena!
Tantos mostraram o quanto a humanidade é pequena!
Esquecidos foram todos por igual!...
E se bons e maus ficaram na história
(Se é que dos maus não se guarda mais memória!)
O que valeu fazer o bem e não o mal?
E se é verdade que se guarda na Terra
muito mais os que fizeram a guerra,
perpetrando atrocidades, fazendo o que não se faz...
E se reinou mais a mentira e a aleivosia;
e se valeu tão pouco quem plantou alegria
vou sentindo que o bem já não me apraz!
Vou levando a vida, vou vivendo; o que resta?
Se ao apagarem-se as luzes da festa
o que era para ser grande nos apequenou?
Sobra seguir neste mundo demente,
engolir o idiota, aturar o insolente,
pois o bom e o mau, por igual, se passou...
A maturidade que julgamos enfim alcançada
nos mostra não mais: ela não vale nada!
Não foi mais que uma doce quimera!
Tanto lutamos para tanto conseguir
e no próximo instante já temos que partir
para o que julgamos ser... e não era!
29 de mai. de 2012
AMOR MENINO
Amor Menino (Pe. Antônio Vieira)
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhe crescer as asas com que voa e foge. A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar a menos.
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhe crescer as asas com que voa e foge. A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar a menos.
8 de mai. de 2012
MEU GRITO
MEU GRITO
Roberto Curt Dopheide
Roberto Curt Dopheide
Leio e ouço estarrecido: 120 milhões de dólares pagos num leilão pela tela de “O Grito”. Fico sem palavras! Não é La Gioconda ou a Santa Ceia de Da Vinci, é um arremedo de espantalho que pretensamente expressa, aos olhos dos críticos e entendidos, todo o clamor da humanidade. Imagino o cidadão comum, a quem o sopro da sorte tenha feito ganhar na loteria um prêmio acumulado de 50 milhões de reais; ele poderia comprar 25% deste quadro (e, francamente, voltar a ser mais pobre que antes, se o fizesse).
Imagino Mozart ou Beethoven compondo uma sinfonia cacofônica, sem qualquer harmonia ou beleza, uerendo expressar com ela todo o clamor da humanidade. Ou Shakespeare escrevendo um texto com palavras trocadas e sem nexo, expressando a loucura do ser humano. Ou Michelângelo ter legado um bloco de granito em que fosse visível apenas um olho humano apavorado e ser, por isso, endeusado como tendo esculpido a mais profunda das expressões do desespero terreno.
Imagino Mozart ou Beethoven compondo uma sinfonia cacofônica, sem qualquer harmonia ou beleza, uerendo expressar com ela todo o clamor da humanidade. Ou Shakespeare escrevendo um texto com palavras trocadas e sem nexo, expressando a loucura do ser humano. Ou Michelângelo ter legado um bloco de granito em que fosse visível apenas um olho humano apavorado e ser, por isso, endeusado como tendo esculpido a mais profunda das expressões do desespero terreno.
120 milhões de dólares! Nenhum quadro vale isso, nem o mais belo deles. “O Grito” só merece isso, só vale isso: um grito. Um grito de inconformismo, um grito do absurdo a que chega a vaidade humana, um grito porque a história do rei nu está virando realidade. Ninguém mais expõe e desnuda mentiras, ninguém mais expõe absurdos, por medo de parecer ignorante, por medo de parecer absurdo. Reflito mais um pouco e concluo: quem mandou ler aquela nota na revista, quem mandou assistir àquela notícia no telejornal. Agora já foi, agora tenho de extravasar a revolta. 120 milhões de dólares.
Não sou exatamente o que poderia denominar-se de sujeito culto. O que digo mais adiante nada mais é que uma pesquisa banal feita no Google por um simples mortal inconformado; uma pesquisa tola e superficial. Tivesse sido profunda, sei, só aumentaria a distância entre o absurdo e belo. Enfim, fui espiar quadros e pintores famosos e constatei: sim, há algo errado, profundamente errado!
Vi “Abaporu” de Tarsila do Amaral; sim, dá para perceber o que é, mas aquelas desproporções não me dão a sensação do belo. Vi depois “O Sono” de Salvador Dali; ai, que coisa ridícula! Depois “Guernica”, de Picasso, com aquele boi de cabeça virada e aquelas cabeças humanóides distorcidas, endo a pretensão de revelar o horror da guerra; sim, tela horrorosa. Fiquei em Picasso e fui ver “O acrobata azul”, um desenho que não seria classificado, de vinte, entre os quinze primeiros de qualquer escola de vila do interior. Deprimente. Parei num tal de Peter Brüning, “Beigeschwarz”; com ele descobri que havia coisas piores que as anteriores. Uns traços sem sentido, disformes, sem gosto sequer nas cores. Eu teria vergonha de expor um quadro destes em qualquer dos quartos da minha simples casa e sinto vergonha do gênero humano, vergonha das pessoas que não sentem vergonha em elogiar algo assim. Pinturas rupestres não seriam de tão mau gosto, e de mau gosto minha medida estava cheia. Mudei de cardápio.
Passei rapidamente pela Santa Ceia de Leonardo Da Vinci, menos para conhecê-la, mais para tomar um fôlego. Depois, “Morning Bouque” de Alfred Guillou – veja você mesmo se não a dependuraria orgulhoso em sua sala de visitas. William Turner pintou “Fischer auf See”, beleza pura (ainda não esqueci aqueles 120 malditos milhões e a vergonha que encerram!). Vi também “Moinho”, de Mondrian. Em seguida caí, sim caí ao acaso, num tal de “Maritime Nocturno”. Adolf Hitler não deveria er tido aqueles sonhos megalomaníacos de conquista, ele deveria ter ficado na arte. Foi ele quem pintou quela tela aos 23 anos e ela foi vendida num leilão por 32 mil euros. Não, eu não pagaria isso tudo, mas pagaria bem, é bonita e me orgulharia tê-la na minha sala. Parei de estrangeirismos e fui rapidamente dar uma olhada num catarinense que lembro ter aprendido em tenra infância ser aqui destas terras e ter sido pintor: Victor Meirelles. Várias obras, parei no sensacional “O combate naval de Riachuelo”, este sim, se tivesse grana, pagaria 32 mil euros para ter em minha sala.
Meu inconformismo não cedeu, não obstante tantas coisas belas, diante do primeiro disparate. Não havia digerido sequer um dos 120 milhões. Navegue você mesmo, se não é pedir demais, por pintores famosos, ou por grandes pintores, ou quadros famosos ou quaisquer outros verbetes possíveis para localizar do enlevado e maravilhoso ao grotesco e estapafúrdio do mundo da pintura.
Às vezes quase chego a acreditar existir alguma força superior que tirou Da Vinci, Mozart e Michelangelo a tempo do tabuleiro, para que não sentissem o que senti. Sim, o rei está nu.
26 de mar. de 2012
CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE?
Roberto Curt Dopheide
Quando eu era criança, observava como o dono da charrete chicoteava seus cavalos. Estes nem mesmo tinham diminuído o ritmo da marcha, nem a chicotada era forte, mas de alguma forma o cocheiro parecia satisfeito em desempenhar seu papel. Os cavalos, por sua vez, não aceleravam seus passos, e não fosse por um leve tremer de seus corpos, quase que com a única intenção de demonstrar ao cocheiro que sua chicotada não fora em vão, se diria que não tinham sequer sentido o impacto.
Olho o povo de meu país e acredito estar enxergando aqueles cavalos. Tão insensíveis já diante de tantos desmandos políticos quanto os cavalos das chicotadas. Nem bem conseguimos digerir o escândalo do café da manhã, já o do almoço nos é empurrado goela abaixo, mas continuamos insensíveis.
Encaminharam-me, dias atrás, um discurso de desalento com a vida pública do senador Jefferson Peres. Quanta tristeza em ver que os poucos exemplos de homens de princípios estejam tão desiludidos quanto eu! De alguma forma ainda era neles que eu depositava alguma esperança. Aí, olho na TV e vejo meu dinheiro sendo gasto em campanhas de utilidade de voto e fico estarrecido. Os slogans querem dar a entender que eu é que sou o responsável pelo fiasco de presidentes e parlamentares! “O seu presidente é igual ao seu voto” ou “Cobre as promessas do parlamentar em que votou”. Epa!
Meu voto não é analfabeto, meu voto sempre soube falar e escrever ao menos o português básico. Como cobrar as promessas de um parlamentar? Informava-me ao máximo sobre o candidato que mereceu meu voto. Lia, discutia, procurava ser o famoso “formador de opinião”... e de repente meu candidato, tão escolhido a dedo, não era eleito. A massa, mantida propositadamente desinformada, escolhia sanguessugas e outros bichos nefastos! Quando eu finalmente conseguia emplacar um candidato... o seu voto secreto em questões importantes o escondia no cômodo anonimato do “agradar a todos”... Quando o voto era aberto e eu lhe remetia um e-mail de protesto, um sub-assessor do assessor do assessor me respondia, provavelmente num hilário histórico-padrão, um cômodo e lacônico “Agradecemos sua colaboração!” ou um “Estamos analisando sua proposta”, para depois nunca mais ouvir falar do assunto. Nem ao menos me informavam que minha proposta tivesse sido vista como impraticável, por exemplo! Que instrumento tem o pobre eleitor, após dar um mandato de 8 anos a um senador, por exemplo, para “cobrar” alguma mancada que este dê após 3 meses de mandato? Engoli-lo por mais 7 anos e nove meses, apenas isto! Depois, trocá-lo por outro com o mesmo risco ou pior, vê-lo sendo reconduzido pela massa mantida propositadamente desinformada. Mais 8 anos... Seis eleições de senador bastam para desanimar qualquer eleitor... são 48 anos que, somados aos 16 da idade mínima para votar, totalizam a idade de 64 anos.
E ainda querem fazer crer ao povo que a máxima do “cada povo tem o governo que merece” é verdadeira! O exemplo não pode vir do desinformado. O exemplo tem de vir de quem comanda, de quem tem nível intelectual mais avançado! Dizer que cada povo tem o governo que merece seria como dizer que cada filho tem o pai que merece. Seria colocar na mão de seus filhos de 8 ou 10 ou mesmo de 16 anos, apenas por constituírem a maioria numérica da casa, a responsabilidade de definir onde você vai trabalhar, morar e que carro comprar, por exemplo... e depois responsabilizá-los pelas conseqüências, eximindo-se comodamente de qualquer responsabilidade, pois, “cada filho tem o pai que merece”.
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