21 de set. de 2011

CANSADO

Estou cansado de estar cansado,
cansado de tanto enxergar;
cansado de ver o abnegado,
cansado de tanto cansar!
Da justiça segura e lenta;
dos acordos, do não ajuizar;
do insucesso de quem luta e tenta,
do que vence sem se esforçar.

Cansado de ver livres escravos,
da vil escravidão reprimida.
Dos tombos que levam os bravos;
da democracia enrustida.
Dos roubos cobertos de flores.
Das frases do que não é.
Das juras de falsos amores,
de gente atirando em seu pé.

Cansado da hipocrisia reinante,
dos selvagens civilizados;
do honesto que vive errante.
estou cansado dos cansados.
Exausto dos pretensos pensantes,
tão nobres frente aos animais;
dos inteligentes ignorantes,
dos crânios irracionais.

Cansado da política vil
dos corruptos de cara limpa;
dos coitados de um país varonil,
cansados da corja supimpa.
Do sabiá de manhã cantando
nos ramos que ainda restam;
dos jumentos ornejando,
pensando que ainda prestam.

Cansado dos leitos de pés d’ouro
com tantos dormindo no chão;
dos que distribuem o tesouro
roubando com a outra mão.
Das fezes a céu aberto,
do cheiro acre do esgoto;
dos que acreditam no certo,
do “idealista” que é um escroto.

Cansado do que deve e não paga.
Do que, não pagando, não nega.
Do coitado que na rua vaga,
crendo ainda que a justiça é cega.
Do irresponsável que achincalha,
do de boa fé que erra,
do mau que só avacalha;
cansado do bom que se ferra.

Cansado da música que destoa,
do livro que não se lê.
Dos profetas que rezam loas,
da chaga que não se vê.
Cansado da falsidade mundana
travestida de razão;
do líder de mente insana
que se pensa gigante, e é anão.

Cansado da enganação careta
de quem vive só fingindo.
Do bêbado na valeta,
do deputado sorrindo.
De padres, bispos, pastores,
de mentirosos de toda gama;
de tantos falsos atores,
dos que chafurdam na lama.

Cansado dos falsos colegas
que dizem que são amigos.
Dos vazios, dos ocos, dos piegas
se escapando dos perigos.
Dos carros e da fumaça,
do excremento no rio;
do que come, do que “traça”,
dos que se fingem no cio.

Cansado dos livros sagrados,
das crenças, seitas, quetais;
dos que se dizem irmanados
constrangendo os animais.
Dos abjetos profetas da glória,
dos conquistadores de terra e mar,
dos escrotos heróis da história,
dos que na lama, se pensam no ar.

Cansado de países, bandeiras;
de limites, fronteiras, da língua.
Dos soldados nas fileiras,
dos miseráveis à míngua.
Cansado de campos empestados,
das praias vertendo lixo,
dos matagais ressecados,
do marginal que semelha um bicho.

Do bárbaro que o ódio destila.
Do que jura amor, se diz irmão.
Da falsidade que grassa tranqüila
e do crescer da ingratidão.
Dos ouvidos que escutam,
dos olhos que dizem ver;
dos que desdenham, labutam;
dos descrentes que dizem crer...

Cansado de belas mensagens,
das vivas ao otimismo.
Dos que de costas, nas paisagens,
sequer enxergam o abismo.
Dos euros, das libras, dos ouros,
dos países em decadência.
Dos que nos roubam tesouros
sem ligar para a decência.

Dos amores prometidos,
das promessas descumpridas,
dos sentimentos enrustidos,
das convicções reprimidas.
Da aldeia global e irmanada
e do gado que anda na rua:
dos que tangem a manada,
fingindo viver na lua.

Dos tolos que se acham sábios
e dos que sabendo se calam.
Dos jornais, dos alfarrábios
que só desgraça exalam.
Dos que multiplicam e dividem;
dos que lêem o que não escrevem.
Dos que afagando, agridem;
dos que temendo, não devem.

Até mesmo do cansaço
confesso, cansado estou!
De cultivar nervos de aço,
cansado de ser o que sou.
Cansado de Deus, do diabo,
dos sonhos e da realidade;
dos que ignoram seu rabo,
dos que desprezam a verdade.

Cansado da burrice que impera,
da rua entupida de asneira;
dos sonhos e da quimera,
cansado de ouvir besteira.
Do próprio cansaço, cansado,
esmorecido de tanto teimar!
Teimando, me sinto abobado,
Cansado de tanto cansar!

5 de set. de 2011

BEBEDEIRA

Difícil de dizer...
Coisas que são difíceis de dizer quando você está  bêbado:
Indubitavelmente
Preliminarmente
Proliferação
Inconstitucional
Coisas que são extremamente difíceis de dizer quando você está bêbado:
Especificidade
Transubstanciado
Verossimilhança
Três tigres
Coisas que são totalmente impossíveis de dizer quando você está bêbado:
- Meu Deus, que mulher feia!
- Chega, já bebi demais.
- Sai fora, você não é do meu tipo...


A morte do Marcão
Marcão era um antigo funcionário de uma cervejaria. Ele era feliz no trabalho, embora seu sonho fosse ser degustador de cerveja, bebida que adorava. Certa vez, no turno da noite, ele caiu dentro de um tonel de cerveja. Pela manhã, o vigia deu a triste notícia:
- É com profundo sofrimento que informo que o Marcão se desequilibrou, caiu no tonel de cerveja e morreu afogado.
Um grande amigo de Marcão com a voz muito triste pergunta:
- Meu Deus! Será que ele sofreu?
O vigia então responde:
- Acredito que não, porque, segundo as imagens da câmera de segurança, ele chegou a sair três vezes do tonel para mijar...


Diversas de bebuns...
- Por que é que você bebe?
- Para afogar as mágoas!
- E resolve?
- Que nada! Elas aprenderam a nadar!

CARÁTER E AMOR PRÓPRIO


Somos todos mortais até o primeiro beijo e o segundo copo de vinho. (Eduardo Galeano)

Nenhum pássaro voará alto demais se estiver voando por suas próprias asas. (William Blake)

Aquele que não gosta de si próprio, geralmente tem razão. (Coco Chanel)

Querer que exista amor sem que haja antes o amor-próprio, é como querer o dia sem que haja antes a noite. (Roberto Curt Dopheide)

Saber resistir à violência é forte, mas vulgar; saber resistir à calúnia e aos motejos é maior esforço, e mais raro. (Alexandre Herculano)


1 de set. de 2011

AMOR RIMA COM PAI

Sento-me em silêncio. Teu semblante me vem à lembrança.
Custo tanto crer que você também já foi criança!
Cada ruga do rosto, cada cabelo branco guarda histórias
que o passar dos anos foi transformando em memórias.

Quantos romances guardam, quantas lágrimas, risos e lições?
E tuas mãos, quantas obras fizeram, quantas boas ações?
Quanto brilho despertaste em meus orgulhosos olhos de guri,
que dói-me tanto, agora, não ter-te comigo aqui?

Donde, com pouco estudo, conseguiste tanta sabedoria?
Donde os conselhos, o carinho, o amor, a alegria?
Pergunto: De que santa essência afinal se faz um pai
que, vivamos mil anos, do pensamento nunca sai?

Lembranças! A bola, a bicicleta, o rolimã, o papagaio.
Nas minhas falhas, um bondoso olhar de soslaio...
O entrever de meus mais secretos pensamentos;
o alento aos problemas, o acalmar de meus tormentos!

Quantas dívidas pagaste, quanto sono te foi perdido?
Quantos sonhos abandonaste, meu velho pai querido?
Quantas lágrimas secretas e invisíveis tua face viu rolar?
Quantas palavras a sensatez de um coração de ouro fez calar?

Este foste tu, meu pai querido, em pensamento injustiçado
tantas vezes, em minha ingênua adolescência. E, malgrado,
achando o jovem filho saber tudo, hoje vê-se, não sabia nada!
Sem tua bússola, quão mais difícil teria sido a caminhada!

Terei conseguido, como pai, aplainar tão bem os caminhos
de meus próprios filhos, afastando alguns espinhos?
Talvez cada ser humano, em seu âmago mais profundo,
tenha certeza de ser seu pai, o artífice do mundo.

Donde obter os conceitos de justiça, liberdade, retidão?
Onde colher os valores da generosidade, da tolerância, do perdão,
senão no caráter ditoso e forte de um pai de fibra e brilho,
vibrante a cada passo justo e honesto de seu filho?

Sinto, entretanto, meu velho, que bem oculto algo me escondestes.
Não sei bem onde, se no baú, no sótão, no bolso ou nas vestes...
Eu achava ser esperto, mostrava-te as boas ações e escondia o mal.
Fala a verdade, pai querido: tinhas guardada uma bola de cristal!

A tudo se atreve o tempo, já dizia padre Vieira...
e transcorreram, a tua e a minha vida de forma tão ligeira!
Cadê a atiradeira, a pandorga, o pião, a bola, o carrinho?
Por que foi-se tudo isso e só eu fiquei aqui sozinho?

Sim, é certo, estava escrito, até ao mármore o tempo se aventura.
“Do pó vieste, ao pó tornarás”, está nas folhas da escritura.
Mas pela lembrança de um pai, mesmo aos deuses se engana.
Foste meu porto, ontem e hoje, por toda minha vida insana!

Te foste. Foi-se a sabedoria, a bola de cristal. Ficou a lembrança.
O corpo é cinza e se foi. Ficou sozinha aqui meu pai, tua criança.
Tua criança que amastes. Te foste, como tudo, afinal, se vai.
Mas te afianço: sempre em minha vida, amor rimará com pai!

Roberto Curt Dopheide, agosto 2010.

CAMBALACHO

"CAMBALACHE" - Fora da Lei - Raul Seixas (versão)

Que o mundo foi e será uma porcaria eu já sei... em 506 e em 2000 também.
Que sempre houve ladrões, maquiavélicos, safados,
Contentes e frustrados, valores, confusão...
Mas que o século vinte é uma praga de maldade e lixo, já não há quem negue.
Vivemos atolados na lameira e no mesmo lodo, todos manuseados!

Hoje em dia dá no mesmo ser direito que traidor...
Ignorante, sábio, besta, pretensioso, afanador...
Tudo é igual, nada é melhor.
É o mesmo um burro que um bom professor, sem diferir, é sim senhor!
Tanto no norte ou como no sul;
Se um vive na impostura... ou profana sua missão.
Dá no mesmo seja padre, carvoeiro, rei de paus, cara-dura ou senador!

Que falta de respeito, que afronta com a razão!
Qualquer é um "senhor", qualquer é um ladrão!
Misturam-se Beethoven, Ringo Starr e Napoleão
E o nobre Dom Juan, John Lennon e San Martín.
Igual como uma frente de vitrine esses bagunceiros se misturam à vida!
Feridos como sabres já sem ponta, vão chorar a bíblia junto ao aquecedor!

Século XX "Cambalache" problemático e febril.
Quem não chora não mama, quem não rouba é um imbecil...
Já não dá mais.... força que dá!...
Que lá no inferno nos vamo' encontrar...
Não penses mais, senta-te ao lado!
Que a ninguém importa se nasceste honrado!
Se é o mesmo que trabalha noite e dia como um boi
Se é o que vive na fartura, se é o que mata, se é o que cura
Sou mesmo um fora-da-lei!...
(Letra e música original de Enrique Santos Discépolo, 1935)

PEDRO II E DONA AMÉLIA

(Antes de embarcar para Portugal, acompanhando D. Pedro I, ambos então apenas Duques de Bragança, em vista do falecimento de D. João VI, deixou D. Amélia de Leuchtenberg Eichstaedt e Bragança – austríaca de nascimento – a carta abaixo, dirigida ao pequeno D. Pedro II, filho do casamento anterior de D. Pedro I, que enviuvara, e então com 5 anos, que ficava no Brasil como sucessor do pai.) É de uma beleza e linguajar ímpar, ainda mais considerando a nacionalidade da autora. Quantos de nossos dirigentes políticos atuais, quantas primeiras damas saberiam tecer um texto com tanta ternura e num português tão correto?


“Adeus, menino querido, delícia de minh’alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado; adeus, para sempre, adeus! Quanto és formoso, neste teu repouso. Meus olhos chorosos não se podem fartar de te contemplar; a majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua engraçadíssima fronte de um resplendor misterioso, que fascina a mente.

Eis o espetáculo mais tocante que a Terra pode oferecer. Quanta grandeza, quanta fraqueza a humanidade encerra, representada por uma criança. Uma coroa e um brinco, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo e aquele que comanda exércitos e rege um império carece de todos os desvelos de uma mãe.

Ah!, querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se minhas entranhas te houvessem concebido, nenhum poder valeria para me separar de ti, nenhuma força te arrancaria de meus braços. Prostrada aos pés daqueles mesmos que abandonaram meu esposo, eu lhes diria entre lágrimas: ‘Não vede mais em mim a Imperatriz, mas uma mãe desesperada. Permiti que eu vigie nosso tesouro. Vós o quereis seguro e bem tratado e quem o haveria de guardar e cuidar com maior devoção?  Se não posso ficar a título de mãe, eu serei sua criada ou sua escrava.’

Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me pertences senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai; um dever sagrado me obriga a acompanhá-lo em seu exílio, através dos mares e terras estranhas. Adeus, pois, para sempre, adeus!

Mães brasileiras, vós que sois meigas e afagadoras de vossos filhinhos, a par das rolas de vossos bosques e dos beija-flores das campinas floridas, supri minha voz; adotai o órfão coroado, dai-lhe todo um lugar em vossa família e em vosso coração.

Ornai seu leito com as folhas do arbusto constitucional, embalsamai-o com as mais ricas flores de vossa eterna primavera, entrançai o jasmim, a baunilha, a rosa, o cinamomo, para coroar a mimosa testa, quando o pesado diadema de ouro o houver machucado.

Alimentai-o com a ambrosia das mais saborosas frutas: a ata, o ananás, a cana melíflua; acalentai-o à suave entoada de vossas maviosas modinhas. 
                                                            
Afugentai para longe de seu berço as aves de rapina, a sutil víbora, as cruéis jararacas e também os vis aduladores, que envenenam o ar que se respira nas Cortes.

Se a maldade e a traição lhe prepararem ciladas, vós mesmas armai em sua defesa vossos esposos, com a espada, o mosquete e a baioneta. Ensinai à sua voz tenra as palavras de misericórdia, que consolam o infortúnio, as palavras de patriotismo, que exaltam as almas generosas e, de vez em quando, sussurrai a seu ouvido o nome de sua mãe de adoção.

Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor de felicidade de vosso país e de vosso povo; ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no paraíso. Eu vo-lo entrego agora e sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura. Ei-lo adormecido.

Brasileiras, eu vos imploro que não o acordeis antes que eu me retire. A boquinha, molhada de meu pranto, ri-se à semelhança do botão de rosa ensopado do orvalho matutino. Ele ri e o pai e a mãe o abandonam para sempre.

Adeus, órfão Imperador, vítima de tua grandeza, antes que a saibas conhecer. Adeus, anjo de inocência e de formosura, adeus!

Toma este beijo, e este...  e este último. Adeus para sempre, adeus!”

ass.: Amélia, Duquesa de Bragança.

(extraído do Dicionário “História do Brasil”)

O TREM DE FERRO

Num trem, em grande disparada,
pai e filho corriam e ambos o que viam?

As montanhas, os montes, os horizontes,
O matagal cerrado, os penedos, os rochedos, os arvoredos...
Tudo a correr com a rapidez do vento tresloucado!
E o trem, que era, em verdade, o que corria,
Parecia estar parado!

A criança, o petiz, cheio de espanto, lhe perguntou:
- "Papai! Por que é que tudo, ao longe, está correndo tanto
e o trem daqui não sai?"

Os passageiros riam, pois sabiam que o petiz se enganava!
O trem, que parecia estar imóvel,
Era, de fato, o que corria e voava.

Dos passageiros todos, um somente nem de leve sorriu.
E, então, os passageiros riam dele, porque ele não riu!
E o poeta (era um poeta...) disse então:
- É natural, senhores, o engano do petiz iludido:
Muitas vezes, a nós a mesma coisa já tem acontecido.

E vós, ó meus senhores, os cientistas, os sábios, os doutores,
Caís no mesmo engano lisonjeiro.
Pois, afinal, todos nós nos enganamos,
Quando, todos os dias, exclamamos:
-"Como é que o tempo passa tão ligeiro!"
Quando nós é que passamos!

(Catulo da Paixão Cearense)

30 de ago. de 2011

FOGO DE CONSELHO

Está escuro, a noite cai silente...
Nas sombras da mata, da floresta,
vaga-lumes e grilos fazem festa
sob um belo céu de luar fulgente...

O burburinho soa pelos cantos:
ansiosos preparam-se os lobinhos.
Vistos de longe, assemelham-se a anjinhos:
rostos lindos, de fazer inveja aos santos!

Surge então, das trevas essa chama:
faz-se luz, acende-se a fogueira,
saudando crianças e jovens em fileira,
à confraternização todos conclama.

Ao tremeluzir dos vaga-lumes e do fogo,
cada chefe checa o último detalhe,
preocupado que o seu grupo não falhe
no teatro que sucede, qual um jogo...

Jovem, o tempo passa tão ligeiro!
Cada estrela que te contempla hoje
amanhã se vai e foge,
como vai-se do lar o escoteiro...

Um dia, adulto, terás te afastado
deste fogo de conselho tão saudoso!
Olharás para trás e orgulhoso
lembrarás de cada chefe abnegado...

No coração, fica acesa a centelha.
Um dia trouxe aos olhos teus o brilho
que agora brilha nos olhos do teu filho,
E em ti, pai, mãe, ele se espelha.

Lobinho, escoteiro: onde estejas, sê leal!
Os chefes são passado, já se foram.
São estrelas que hoje do céu olham
para ver se seguiste o ideal...

Jamais esquecerás os cantos entoados
nem o cheiro da fogueira crepitante!
Vivas mil anos ou só mais um instante,
são momentos para sempre relembrados!

Roberto Curt Dopheide

29 de ago. de 2011

GOSTO DAS MULHERES SIMPLES


Gosto das mulheres simples, das mulheres que são bonitas porque são normais e simples.

Me assusto um pouco com mulheres “perfeitas”. Comparo-as a um pôr do sol perfeito: ele me leva à contemplação apenas. Não consigo olhar um pôr do sol perfeito e imaginar-me  ao esmo tempo conversando, caminhando, rindo, chorando, abraçando, brincando, chupando um sorvete ou comendo uma pêra... só contemplando...

Mulheres de corpo perfeito são para contemplar...Procuro e gosto das mulheres simples porque sua beleza está na simplicidade e na aceitação de si mesmas.

A perfeição é um sonho e sonhos se desvanecem no ar. Gosto das mulheres simples, normalmente bonitas, porque elas são realidade. Elas são como o prato mais simples e gostoso na casa da mamãe. Mulheres perfeitas são com pratos chiques de um restaurante luxuoso de Paris: lindas quando contempladas, mas que não me acalmam o apetite além de inacessíveis aos seres humanos normais.

Tenho medo de tocar seios que parecem cristais de tão perfeitos. Seios normais, que talvez já amamentaram, transmitem um prazer de amor profundo, de vida e de entrega total.

Reluto em beijar bocas com dentes perfeitos de marfim. Parecem ter sido feitos só para sorrir e contemplar, não para beijar. Me distancio de lábios desenhados à perfeição, com medo de que quando falem, nada transmitam: têm beleza mas podem não ter conteúdo.

Tenho medo de acariciar coxas que parecem obras de arte e por isso só devem ser admiradas a uma certa distância. Entretanto, gosto quando estão lisas.

Temo fazer carinhos em cabelos que parecem plumas de deuses, cujo alinhamento e ordem podem ser comprometidos ao menor dos toques. Fico preocupado em que cabeças com cabelos perfeitos prefiram manter sua perfeição a receber um carinho. Gosto do cabelo das mulheres bonitas e normais, que podem ser tocados, acariciados, desarrumados e que ainda assim transmitem fascínio.

Fico estático diante de bundas arrebitadas e totalmente perfeitas – transmitem um quê de mulher-objeto, fruto de um consumismo que me assusta um pouco, atributo de dançarina de televisão, uvas da parreira mais alta, anel de diamante que não foi feito para usar. Gosto de bundas que possam ser tocadas, mordidas de leve, beijadas e apalpadas com sofreguidão!

Gosto de mulheres simples e bonitas cujo interior eu não vejo, mas posso sentir...mulheres perfeitas me transmitem uma sensação de vazio, de oco...

Tolero com gosto uma gordurinha na barriga pois isso me desobriga de também ser perfeito.

Gosto de uma ou algumas cicatrizes: são sinais de dores já passadas e quem já sofreu é mais sensível à sensibilidade. Não me importo com uma estriazinha ou um pouco de celulite, pois são sinais de que não estou lidando com uma escrava de seu próprio corpo, mas um corpo que se entrega como escrava àquele de quem ela gosta.

Vejo com bons olhos uma manchinha, um sinalzinho. Desde que o conteúdo seja gostoso, pleno e feminino, não dou valor excessivo à embalagem.

Gosto de mulheres carinhosas, ávidas e logo adiante calmas, que conheçam o momento do carinho, da avidez e da calma. Gosto de mulheres que me aceitam como sou sem a busca frenética por um super-homem que não sou. Gosto de mulheres que sintam prazer em que as aceite como são. Gosto de me entregar a mulheres simples e bonitas que se entregam. Musas perfeitas não fazem isso.

Gosto de olhos expressivos porque sempre são bonitos, ao invés dos olhos perfeitos que nada expressam ou transmitem. Gosto de olhos normais de mulheres simples que me olham com o brilho de um sol que aquece, àqueles perfeitos que parecem estrelas frias e inacessíveis, apesar do brilho...

Gosto de gemidos naturais, espontâneos e verdadeiros tanto quanto do silêncio, desde que exista energia de lado a lado, ao invés de gritinhos fingidos que não me tocam.

Gosto de mulheres simples e bonitas que se entregam totalmente, que têm freqüência e sintonia afinadas, que pulsem num ritmo de atração, cujas ondas de emoção se encontrem com as minhas e formem um só pulsar, dobrando a emoção do momento.

Se os pés forem bonitos, de preferência pequeninos e mimosos, podem ter uma unha machucada ou a sola um pouco mais grossa, pois denotam caminhadas. Gosto de quem caminha, pois o caminho é sempre árduo para pessoas normais e por isso os que caminham valorizam bem mais os bons momentos de descanso e de prazer. Pés muito perfeitos me dão medo por não conhecerem quaisquer caminhos, de viverem sempre no ostracismo, sempre para o alto.

Gosto de mãos delicadas e limpas, mas não faço questão de unhas perfeitas, apenas  cuidadas. Mãos sempre perfeitas muitas vezes não tocam o que tocam mãos simples, mas carinhosas. Se, além disso, tiverem uma cicatriz de um corte, um calo que demonstra que são mãos que trabalham, eu não me importo: mãos que conhecem o trabalho são mãos de uma sensibilidade que ultrapassa o simples cuidar da pele e tocam e acariciam com dobrado carinho àqueles de quem elas gostam. Mãos sempre perfeitas me preocupam porque descansam demais e provavelmente se cansarão ao primeiro carinho, ao primeiro obstáculo.
Mãos acostumadas à lida são mãos que transmitem a energia que vem do fundo da alma, dos recônditos do coração... 

Gosto de mulheres com corpos que se entregam, sem querer esconder qualquer parte por não ser perfeita, pois a maior perfeição é a total entrega. Sim, adoro mulheres simples e bonitas que se entregam tanto de corpo quanto de alma, pois elas é que na verdade são as mulheres perfeitas!

Roberto Curt Dopheide

SER LIVRE



Talvez mais que a riqueza material, a saúde ou a própria vida, a liberdade é a maior aspiração do ser humano. Satisfeita a fome e a sede, é na liberdade que o ser humano encontra suas maiores recompensas. A liberdade, porém, não é uma simples dádiva: é uma conquista. Pense nas seguintes idéias, tente colocá-las em prática e conquiste sua liberdade.


Primeiro

Alimente-se bem e descanse o suficiente, senão sua liberdade ficará subordinada ao cansaço, aos médicos e aos remédios.


Segundo

Poupe, gastando um pouco menos do que ganha, senão sua liberdade ficará subordinada aos credores e aos imprevistos.


Terceiro

Estude e aprenda sempre, senão sua liberdade ficará subordinada à esperteza e à sabedoria dos que estudaram enquanto você estava de braços cruzados.


Quarto

Trate ao próximo como gostaria de ser tratado. Seja sempre correto e justo, senão sua liberdade ficará subordinada à desaprovação da sua consciência.


Quinto

Geralmente um trabalho pode ser feito no dia seguinte mas um arco-íris não aparece todos os dias. Por isso, aproveite todos os bons momentos da vida quando eles aparecerem, senão sua liberdade ficará subordinada ao arrependimento do que não fez.


Sexto

Mantenha sempre a classe, a calma, a educação e a disposição ao perdão. Diga "sim" quando tiver que dizer "sim" e "não" quando tiver que dizer "não". Se assim não for, sua liberdade ficará subordinada às suas próprias falsas respostas, aos falsos conselhos da ira, à falsa satisfação da vingança.


Sétimo

A vida nem sempre é totalmente justa. Quando o coração e a razão estiverem em conflito, atenda ao coração, senão sua liberdade ficará subordinada à razão e a vida não é só racionalidade.


Oitavo

As convenções sociais existem. Não desrespeite mais que a metade, ainda que delas discorde, senão sua liberdade ficará subordinada também à outra metade dessas mesmas convenções e ao isolamento que a sociedade lhe impingirá.


Nono

Cultive um grande amor e defenda uma boa causa, senão sua liberdade ficará subordinada ao vazio que uma vida sem amor e sem ideais proporciona.


Décimo

De tudo quanto sabe, é dobrado o valor quando você toma atitudes. Por isso, tome a atitude certa logo, não deixando para amanhã o que você sabia ser necessário ter sido feito hoje. Se assim não for, sua liberdade ficará subordinada ao fato de sempre saber o que tinha que ser feito e à frustração de não tê-lo feito logo. O ontem é passado, o amanhã é incerto, o hoje existe!


Roberto Curt Dopheide